domingo, 5 de junho de 2016

Banco de Tempo

Banco de Tempo
A casa da mangueira
(em construção)
PDF 654



Cadeiras e bancos sentados no presente, remeteram-se ao futuro e ao passado. E como sempre as histórias se repetem. Podem até mudar o cenário, mas remetem suas ideias ao futuro e ao passado. No passado sentaram-se em pedras ou no chão, debaixo da sombra de uma mangueira, junto a uma cerca. Depois confeccionaram os tamboretes, até que chegaram os bancos e as cadeiras, e outro modelos de assentos, com almofadas e encostos, proporcionando algum conforto. A mangueira continua presente.

Para encontrar a casa da quase prima, foi preciso um conhecimento. Primeiro com informações coletadas, com a descrição da casa da quase prima. Uma mangueira era o principal referencial. Uma casa com uma mangueira, destacando-se na paisagem urbana. E tornou-se necessário saber o que seria ser uma casa, e distinguir uma mangueira, como árvore frutífera, ou uma mangueira para regar um jardim; ou quem sabe, uma coleção de mangas de camisas. Ainda há os mangotes e outras mangueiras, que podem ser pequenos frutos, peças de irrigação ou de carros. Em outros tempos mais remotos a casa poderia ser perto de uma pedra, junto a um córrego ou colada junto a cerca. E até ter uma mangueira, a casa depois do pé de jambo ou de um coqueiro.

E na rua haviam casas, com coqueiros e com jambeiros, era preciso distinguir uma mangueira, que poderia ter tons de verde diferentes.  Mais tarde na casa da mangueira, surgiu uma informação, que somente os índios conseguem identificar uma grande variação nos tons de verde. Nas cidades, cada vez mais surgem os tons de cinza.

Ninguém é capaz de dizer que o conhecimento não importa, o conhecimento se insere nas pessoas sem mesmo que elas se deem conta. E não é aprendido somente nas escolas. A escola é a transferência de uma responsabilidade aos professores, da responsabilidade de mostrar uma trilha, a trilha do conhecimento. A comodidade de não pesquisar e descobrir os caminhos.  O corpo é um conjunto de conhecimentos, obtidos pelos sentidos e explícitos pelos comportamentos. Por palavras e pelos gestos. Por apliques e adereços, no vestuário ou no corpo. Por rabiscos em papel ou riscos abstratos em uma pedra, perdida em meio a floresta, ou até no árido sertão.

E para encontrar uma casa em uma rua, já é necessário um conhecimento básico. primeiro distinguir uma rua, que pode a princípio um caminho aberto na mata por um trator. Mas as ruas na cidade normalmente de distinguem por vias asfaltadas, com calçadas de ambos os lados, e a via se destaca por uma diferença de níveis, entre a via asfaltada destinada aos carros e a calçada, junto as casas, um pouco mais elevada, o caminho para os pedestres. Na rua cheia de casas residenciais e comerciais, era necessário reconhecer uma mangueira em uma casa residencial. Ao avistar a mangueira, já era possível supor a existência de uma campainha, a não existência cairia em outros recursos, bater na porta, bater palmas ou chamar do portão. Tudo isto por mais simples e comum que seja, é um conhecimento.

A divisa da calçada com a rua, tem um meio-fio (guia), que a prefeitura pode denominar como alinhamento. E cada casa pode ocupar um lote, desde do tempo que não haviam casas e era um grande terreno. Terreno ou fazenda que foi loteado, para que quem o adquirisse, construísse uma casa. E talvez a mangueira daquela casa, seja a única lembrança daquele espaço no passado, dos tempos que ali não existiam nem ruas e nem casas. Pode ter sido uma sombra para descanso no tempo, que só existiam caminhos e trilhas.

O urbanismo vai chegando e apagando as memorias e as lembranças. E assim pode ser o vocabulário, com frases e palavras, com o tempo podem ir se modificando, perdendo seus significados, perdendo as lembranças. Hoje a cerca esta trocada por um muro. Muros e paredes são os símbolos divisórios do espaço urbano, trocando cercas de mourões e arames, e malhas de gravetos preenchidos com o barro. E se houvesse um córrego, agora estaria coberto por asfalto, correndo por dentro de manilhas. Os animais que ali passavam como montarias, hoje ainda podem estar atrelados a carroças, com um carroceiro catando as sobras, descartáveis reutilizáveis e metralhas. Estão perdidos no asfalto e no tempo. Coletam em suas carroças a produção da cidades, embalagens, entulhos e metralhas. Cada um vive em seu tempo, desfrutando de um mesmo espaço. O futuro, o passado e o presente, estão nas ruas. Basta entender as linguagens, descritas no corpo e no comportamento.

Ruas e avenidas são as vias básicas de uma cidade, evoluídas das trilhas e caminhos. Vez por outra um conhecimento local, com usos de expressões regionais ou bairrismos, em um significado, podem haver diferenciações. Alamedas e avenidas, variam das largas com inúmeros carros em velocidade, a espaços estreitos ladeados por casas, sem espaços para carros, somente os pedestres tem acesso. Podem possuir arvores, em suas laterais, ou em canteiros dividindo ao meio a via.

Mas na sombra daquela mangueira, perdida agora no espaço urbano, um grupo sentou para dedicar um tempo, entre os que estavam presentes. Resgatar histórias e resgatar outros significados. Embora não haja registros, outros grupos do passado podem ter sentado naquela mesma sombra da mangueira, para contar histórias e causos.

O grupo de Daluzinha, a quase prima, reuniu-se mais uma vez debaixo da sombra da mangueira. E o espaço da antiga fogueira, próximo a mangueira, agora é a cozinha. A varanda é a tenda, com espaços abertos. Ainda existe a porteira, onde o carro substituiu a carroça. Repetia-se mais um ato, dos tropeiros antigos. Agora é o conhecimento que vai como bagagem. As mercadorias mudaram de formas e valores, já foram agrícolas, comerciais e industriais. Agora são intelectuais. Enquanto um grupo trocava histórias e mercadorias, debaixo da mangueira, uma se dedicava ao cozimento de alimentos, para alimentação da tropa.

Faziam um escambo com suas mercadorias. Saberes e sabores, sempre estiveram juntos, desde os tempos bíblicos. Um dia Deus não queria que o homem obtivesse o conhecimento, proibindo o consumo de um fruto. E agora os governos se intitulam deuses, com capacidades e autoridades de controlar o conhecimento. Controlam a produção, a exportação e a importação de alimentos. controlam a educação e as escolas. controlam os números. Excluem o que desejam, do alcance dos povos com valores absurdos e impostos.

A cozinha é o espaço onde as coisas e as ideias se misturam. Ali junta-se os componentes agrícolas com os componentes industriais, com toques intelectuais. O encontro do urbano com o rural. E tal como os livros, os pratos são dispostos sobre as mesas, para apreciação e conhecimento. Quem cozinhava chamou Daluzinha para uma revisão, antes da apresentação final. Daluzinha confiante em quem preparava, dispensou o ato de supervisão.

Cada um ali presente, naquele espaço em um determinado tempo, doou o seu tempo, para ouvir e ser escutado, trocar ideias e pensamentos. Traçar planos e metas, para que as histórias contadas naquela sombra de um sábado, com sol e as vezes com chuva. Histórias que podem ser levadas pra outras sombras. Parque urbanos com sombras e arvores, ou ate mesmo parques tecnológicos com informação e conhecimento.

Pensaram em criar um Banco de Tempo, oferecendo seu tempo, com o que sabem fazer, a quem não tem tempo e nem dinheiro, possuindo muitas necessidades, mas necessita do tempo de outros com alguma habilidade ou facilidade. E com o tempo de outros, aqueles que não tem tempo, podem descobrir que possuem tempo e algumas habilidades, que não sabiam, mas podem se uteis para outros.



RN, 05/06/2016

Texto publicado em:

http://pelasruasdenatal.blogspot.com.br/2016/06/banco-de-tempo.html

http://www.publikador.com/educacao/roberto-cardoso/banco-de-tempo






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